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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Meus cães - 2



Pois bem, entra Cesar Millan. O cara é um reabilitador de cães "problemáticos" há uns 20 anos nos EUA. É mexicano e trabalha com noções de psicologia animal, linguagem corporal, pensamento positivo etc. Há um quê de auto-ajuda em seus livros, mas dá pra filtrar isso. O que mais me interessa nele: o ponto de vista é o do cão, tudo gira em volta do funcionamento do cão em matilha. Todos nós, os donos, acabamos humanizando os cachorros. Uns mais, outros menos. E por humanizar não estou dizendo aquele negócio de falar em nenenhês com os bichos, ou colocar roupinha só não. Ao pensar que o cão "entende" o que falamos, quando damos bronca num cão como faríamos com uma criança, quando esperamos que eles preencham nossas expectativas (humanas) de bom comportamento, quando os tratamos como bichos vivos de pelúcia etc., estamos humanizando os cães. E eu pensava que eu não era esse tipo de dono, que tratava a Otsu, após todas as leituras que havia feito, como a cadela que ela é (vixe, uma frase dessas fora de contexto seria ofensiva!).

Uma das fontes mais comuns de problemas com cães é o fato de nós ignorarmos que eles têm certas necessidades especiais que precisam ser satisfeitas para que sejam equilibrados e felizes. Cães são animais migratórios, nômades, logo, caminhar era uma atividade diária para sues ancestrais. Caminhar é uma necessidade primordial de todos os cães, é exercício físico (por motivos óbvios) e mental ("estou andando, estou buscando comida, tenho algo importante para fazer..."). Quintal grande não substitui a caminhada. Um quintal grande, para o cão, não passa de um canilzão! Caminhar ao lado de seu líder é outra coisa! Por falar em líder, essa é outra necessidade dos cachorros: hierarquia. Eles vivem em matilhas, são animais sociais e como tais precisam de ordem, de funções específicas. No caso, existem duas: o líder e o seguidor. Sem juízo de valor (humano...), pois ambos papéis são importantes. O líder é o responsável pela segurança, pelo abrigo, pelas direções das caminhadas, pela alimentação da matilha. É um fardo e tanto! Por isso os animais mais estressados são os líderes. O restante da matilha segue as orientações do líder, o que é mais cômodo. Assim, se você não age como líder do seu cão, ele tentará ser o líder de sua casa, o que leva sempre a muitos problemas (afinal, o dono é você, quem domesticou os cães fomos nós, os humanos, somos nós os responsáveis por eles).

Por ignorar esses princípios, tratamos os cães como humanos de quatro patas e nos arriscamos a ter cães desequilibrados e uma relação incompleta com eles. Taí outra coisa interessante dessa linha do Cesar: nossa relação com os cães pode nos ajudar a nos conectar com um aspecto esquecido de nossa natureza: os instintos. Não tenho a pretensão de fazer um resumão das técnicas e premissas do "Encantador de Cães", mas pra compartilhar essas experiências com vocês preciso tentar explicar algumas coisas. Olhando em retrospecto, vejo quanta coisa deveria ter feito diferente com meus cães. Não posso voltar no tempo, mas posso aperfeiçoar o presente. É isso que estou tentando fazer com a Otsu.

Na prática, o que significa isso tudo? A agressão e o medo são péssimos professores. Ao disciplinar nossos cães, devemos ser assertivos, ou seja, determinados em nossas ações e comandos, e calmos, tranquilos, para não usarmos energia em excesso ou de qualidade ruim (violenta, por exemplo). Cesar fala muito de energia, um troço que pra mim, cético e ateu, é meio difícil de engolir. Mas percebo e entendo que nossas intenções, emoções e desejos interferem em nosso comportamento, em nossa postura corporal, o que afeta o modo como as pessoas e animais nos veem e como reagem a nós. É o elemento não-verbal do negócio. Assim, tenho tentado controlar minha frustração, raiva e agressividade ao repreender Otsu e sei que faz efeito, pois não vejo nela mais os sinais de medo que via antes (cabeça e orelhas abaixadas, rabo entre as pernas, comportamento esquivo etc.). Continuo atento a isso. Estou caminhando com ela diariamente, às vezes só nos dois, às vezes a família toda. Nesse ponto tenho muito que agradecer a Lê, que tem me ajudado a organizar as coisas (ou seja, segurado as pontas com Yuri e Luana, às vezes junto com minha sogra), pra que eu possa sair por 20 minutos com a Otsu. O tempo é curto (o ideal são uns 45 min), mas comprei uma mochila pra intensificar os trabalhos físico e mental da Otsu, que já está carregando meio quilo na cacunda. Quando o tempo é mais curto ainda, corremos, o que aumenta a canseira. Misturo sua comida com minhas mãos, para que tenha meu cheiro e fique bem claro de onde vem seu alimento. Sirvo água e comida e peço que ela espere até meu comando para que possa comer. E ela obedece! A caminhada está cada vez melhor e o pouco que ela puxava antes se reduziu a quase nada. Tudo na base de o-líder-aqui-sou-eu-e-você-deve-me-seguir-e-não-o-contrário: puxões laterais na coleira, advertência sonora (o psst! do Cesar é fácil pra mim, pois era assim que meu pai repreendia nossos cães também), bloqueio com a perna, se necessário. O carinho é a última coisa da lista (exercício e disciplina primeiro) e vem em forma de alimento e água, cafunés e afins. De manhã, como ainda não dá pra sair com ela, faço a Otsu dar uns saltos antes de comer. Trabalhar por comida é outra necessidade deles.

Preciso ainda trabalhar o impulso fujão dela (que já está melhor graças às caminhadas), os pulos que ela dá de vez em quando nas visitas e as mordiscadas que ela dá no Yuri quando eles brincam. Preciso trabalhar em mim a tendência agressiva e a impaciência, mas sinto que já estão melhores. Minha relação com a Lê e o Yuri também parece ter se beneficiado do meu contato com trabalho de Cesar, pelo menos é o que a Lê tem dito. Estou mais calmo, mais paciente e mais outras coisas que ela vai saber dizer melhor. Os cães podem nos ensinar muitas coisas, entre elas, a viver o presente - eita trem difícil!

Tenho outras coisas pra falar sobre o "Encantador de Cães", mas este post já tá do tamanho de um bonde. Sugiro a todos os donos de cães a leitura do Encantador de Cães e do Cães Educados, Donos Felizes, ambos do Cesar Millan. Depois a gente conversa mais. Abraços.

PS: os links acima não são necessariamente para compras, mas apresentam sinopses dos livros, que podem ser comprados em qualquer lugar (que venda livros, claro!).

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Meus cães

Depois de alguns séculos sem postar, resolvi fazer uma coisa diferente e, ao invés de colocar tirinhas ou coisas assim, vou falar um pouco da minha relação com meus cães, pois estou vivendo um momento especial agora (fora a paternidade, mas isso é outra história, pra outro post). O primeiro cão que tivemos em Lavras foi um fox paulistinha mestiço, o Dober. Nervoso, fujão, mordedor de narizes incautos. Depois de alguns anos, seu destino foi o expurgo na fazenda do meu avô, o João-homem. De lá, sabe-se lá pra onde foi. Quando fugia lá de casa, eu ficava na porta chorando, com uma bacia de leite (dá um desconto que eu era criança...). Bem, o segundo cão foi o Iron, pastor belga, filhote do Maradona, de meus primos Thiago, Raphael e Pedro. Brincalhão e bonito. Tentei passear com ele uma vez, mas a corrente destruiu minhas mãos. Estava tão de lado na época que morreu (alguma dessas viroses, eu acho), que nem reparamos seu desaparecimento. Só ficamos sabendo de seu fim quando meu pai, gentilmente, falou depois do almoço: "O Iron morreu essa manhã."

Depois, veio o Xangô. Mestiço de labrador, collie e sei lá mais o quê. Cachorro bom também. Ficou meio brabo e foi levado pro sítio do meu pai, O bem virá. Lá, virou um leão, matava até sombra. Morreu de morte matada, azeitona na cabeça. Na república, já em Uberlândia, veio a Gota, filha de quem? Do Xangô! Linda, labrador mestiça, corpo preto e patas brancas com gotas pretas. Tentei adestrá-la, sem muito sucesso. Passeávamos com ela exporadicamente, na praça, na UFU. Brava quando precisava, gentil o resto do tempo. Depois que me casei (outro post, gente, em outro post) e meu irmão foi morar com minha cunhada, sobrou pra Gota, que voltou pra Lavras, pra casa dos meus pais. Depois de participar da morte da cadelinha de estimação de minha mãe, sítio. Lá, virou um leão, quer dizer, uma leoa... ainda é.

Um ano e pouco após meu casamento, resolvi que era hora de ter o cão da raça que eu sempre quis: Akita. Consultei a Alessandra e tudo bem. Pesquisa daqui, pesquisa de lá, descobri informações sobre a raça e sobre criadores. Depois, fui pesquisar se dava pra ter um em apartamento (morávamos num de uns 55m²). Daí, comecei a ler sobre adestramento. Descolamos a Otsu em São Paulo, com pedigree e tudo. Adestrei a bichinha, que só fazia suas necessidades na rua, dava a pata, buscava bolinha etc. Saía com ela 4 vezes por dia, mas cada saída durava só 5 minutos. Um pouco antes de nos mudarmos pra nossa casa, descobri, por um amigo dono de petshop, o tal do Adestramento Inteligente (quem conhece o Alexandre Rossi sabe do que se trata). A partir daí, comecei a entender melhor o funcionamento da mente do cão, aperfeiçoei o adestramento da Otsu e tal e coisa. Achava umas coisas meio estranhas (como a dificílima punição despersonalizada), mas tudo bem. Nos mudamos pra nossa casa e os curtos passeios diários com a Otsu foram pro beleléu.

Nasceu Yuri, nasceu Luana... eis que, vendo Animal Planet, conheço Cesar Millan. Aí o negócio ficou interessante. No próximo post conto os impactos desse reabilitador de cães na minha relação com a Otsu, com minha família...